terça-feira, 23 de setembro de 2008

A casa com três pátios 1934

Analisando agora a casa em sua totalidade, temos primeiramente um grande pátio, sendo este uma extensão da casa, que é envolvida por grandes muros. Nesse pátio encontramos a representação da natureza que, não mais no estado puro, passa-nos a idéia artificial de mundo. Nesse pátio não há uma forma de se relacionar com a natureza como faria as famílias-tipo, cultivando flores ou inserindo objetos de lazer. O que temos é apenas uma relação contemplativa da constante sucessão do mesmo. Veremos o correr do tempo natural que o jardim e as árvores, juntamente à visão que se tem do céu nos proporcionaria.

Temos que falar da casa com três pátios como uma casa urbana também, pois o arquiteto não nega a cidade. Seus muros não são resultado só do sujeito que habita o interior da casa, inclusive, mas são também decorrentes de uma cidade turbulenta e de um homem que tem uma vida social intensa. Portanto, a casa não deve ser entendida somente para fins reflexivos, mas também como meio de desenvolver relações mundanas.
No século XVIII, por exemplo, os indivíduos faziam suas reflexões em casa e debatiam a partir daí em ambientes públicos da cidade burguesa. A casa com três pátios proporciona esse tipo de situação – ao mesmo tempo protegida de indiscrição, aberta ao imprevisto.
Ao reorientarmos nossa análise para os materiais da casa, percebemos que o arquiteto trabalha tanto com materiais tradicionais como o tijolo, a pedra e o couro quanto com materiais mais avançados como o aço e o vidro.
Um elemento presente nos desenhos da casa com três pátios é a lareira feita em tijolos. A mesma é disposta na parede de maneira discreta para não permitir a sensação de verticalidade, como se fosse apenas um objeto que remete a uma evocação de passado, um tempo que pode voltar sobre si mesmo.
A pedra utilizada nos muros e no piso faz referência às tradições locais. É um artifício utilizado por Mies como forma de passar mais subjetivação da modernidade, afirmando a condição temporal da habitação.
Ainda em relação influência de Nietzsche, Rohe acaba eliminando a verticalidade na casa para conseguir afirmar o sujeito como o protagonista, como se a horizontalidade fosse a negação da divindade e a referência a um espírito mundano.
Da mesma forma acontece com a luz. A iluminação densa e zenital está completamente fora do projeto. O arquiteto usa como artifícios a exploração da reflexão para conseguir no piso e no teto a mesma intensidade de luz, inclusive, Mies também utilizou desses artifícios no pavilhão de Barcelona, onde os materiais do piso e do teto provocam um equilíbrio ótico.

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