terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Habitante

Ao chegarmos nessas análises de projeto, fica difícil não pensarmos numa relação do habitante com o que Nietzsche vai chamar de “super-homem”. No livro Assim falou Zaratustra (NIETZSCHE, 1888), feito em estilo bíblico, Nietzsche esconde-se atrás do profeta Zaratustra para anunciar a chegada de um novo corpo e um novo pensamento que não se trata mais de um humano, mas de um sobre-humano que é produzido por meio das nossas próprias experiências. Essa figura, “o super-homem”, deve reconstruir posição no mundo. De um modo geral, somos motivados pelos medos, hábitos, superstições, ressentimentos e todas demais coisas que são atribuídas à natureza humana. Para Nietzsche, todos nós somos super-homem em potencial, basta livrarmo-nos de toda a sujeição imposta pela sociedade.
Mies van der Rohe (1934) propõe uma condição inicial para esse sujeito – o isolamento. Essa condição proposta pode ser advinda da interpretação feita do livro de Nietzsche pelo arquiteto. Entende-se que o profeta Zaratustra dirige-se à montanha e nela descobre o retiro da solidão. Sendo assim, esse isolamento constitui um grande aliado para a criação de valores independentes e buscar uma nova lucidez.

Dada essa busca individualista, os muros da casa vão dar ao sujeito o isolamento que ele necessita ter para formar uma construção de si, assim como no pensamento nietzscheano.
Nietzsche (1882), em Gaia Ciência, assim considera a importância do isolamento:

[...] chegará um dia - quiçá muito breve- em que se reconhecerá o que falta a nossas grandes cidades: lugares silenciosos, vastos e espaçosos, para a meditação. Lugares com largas galerias cobertas para os dias de chuva e sol, aos quais não atingirá o ruído dos carros nem o pregão dos mercadores, e onde uma etiqueta mais sutil proibira até o sacerdote de orar em voz alta: edifícios e construções que, em seu conjunto, expressarão o que há de sublime na meditação e no isolamento do mundo.

Ainda nessa obra, a questão do eterno retorno como a recuperação do presente frente à tirania do futuro proporciona uma volta a vida e as paixões contrárias aquelas impostas.

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